10.16.2011

Um domingo. Um adeus.

Pai,
São 17 h do domingo, 16 de Outubro de 2011, e neste mesmo dia da semana passada, você ainda estava por aí... Bebendo, pensando, sentindo, talvez sofrendo, talvez sentindo falta, talvez se arrependendo de algo, talvez rezando, talvez pedindo a Deus qualquer coisa...

Pai,
Eu tinha essas poucas horas deste domingo passado para tentar mais uma vez falar com você, mandar outra mensagem mais carinhosa e menos rebelde, ou ter ido aí, para de repente, te dar o abraço que logo depois eu saberia que seria o último.

Podia ser que nesse encontro eu tivesse coragem de te dizer o quanto eu sentia sua falta, e que por esse motivo que eu tinha uma grande mágoa no meu peito, mas que nesse mesmo peito tinha um amor por você tão imenso...

Podia ser que soasse estranho depois de tanto tempo te chamar de “painho”, mas eu ia estar feliz de estar na sua presença para poder dizer isso denovo.

Podia ser que eu te dissesse que quase ganhei uma televisão 3D para te dar no Dia dos Pais, mas que eu nem sabia se teria coragem de te dar, porque tive medo de te procurar nesse dia, e a única coisa que consegui foi te mandar uma mensagem...

Podia ser também, pai, que eu te pedisse perdão por não ter insistido, e por ter competido com você nesse orgulho em manter a distancia que evita (ilusoriamente) sofrimentos e acumula tantas saudades...

Podia ser que eu te dissesse que nunca me importei com dinheiro, e que a única ajuda que eu esperei de você como pai, a vida inteira, era a sua companhia...

Podia ser que eu te dissesse que a qualquer dia eu vou me casar, e que mesmo distante, eu queria você ali, pegando na minha mão, entrando comigo na igreja e me dizendo para ser “feliz”...

Podia ser que eu te dissesse o quanto você cozinhava bem, e que eu sentia a falta da sua comidinha...

Podia ser que eu te dissesse que gosto de escrever e recebo elogios por isso, então certamente essa habilidade foi um presente seu, que sempre foi um grande poeta.

Podia ser que eu falasse dos meus cabelos, tão elogiados, que também foi presente da sua genética...

Podia ser que eu te dissesse que ouço desde pequena que o meu pai é um homem extremamente inteligente, e isso SEMPRE me orgulhou como pedaço dessa grande pessoa.

Podia ser que eu cantasse a música sobre Pai de Fábio Júnior, que pode parecer tão besta pra tantas pessoas, mas que toca profundamente o meu coração e me deixa de olhos lacrimejando quando eu a ouço e lembro de você...

Podia ser que eu te dissesse que a música de Fagner também me lembra muito você, porque todas as vezes que eu fecho os olhos eu sinto a sua falta.

Podia ser que neste dia, eu tivesse coragem suficiente para admitir para mim e para você que ninguém no mundo nunca ocupou o seu lugar, e nunca o fará... Ainda que ele continue vazio. Você foi e será sempre insubstituível na minha vida.

Podia ser que juntos, a gente conversasse e se perdoasse pelos desencontros e chateações da vida, afinal, todos os filhos e pais em algum momento têm os seus desentendimentos...

Podia ser pai, que a minha presença te distraísse e te fizesse não tomar o último gole da bebida que foi responsável, a bem longo prazo, pela sua partida tão cedo e tão inesperadamente.

Podia ser que eu esperasse ouvir de você muita das coisas que eu gostaria de te dizer, e talvez por medo de não ouvir, eu não apareci neste dia. Neste domingo, que foi de todos os seus dias de vida o último domingo que eu poderia mudar o nosso destino... E as nossas últimas lembranças.
Eu só cheguei depois. E tudo, que não é nem a metade do que eu ainda gostaria de ter oportunidade, estará aqui guardado no meu coração e na minha memória, para um dia, quando chegar o momento certo, eu te dizer TUDO e te dar aquele abraço que não será mais o último, mas o primeiro, de tantos, em outra dimensão.

Guarda o meu lugar na tua casa, dentro da morada do nosso Pai, que quando eu chegar é o teu aconchego que vai me confortar. Guarda aquele quarto que um dia você nos deu... Cheio de cor-de-rosa, do seu jeito e com o seu amor, tão único e importante quanto você é. Na minha vida. Pra sempre.

Até breve, painho.

8.14.2011

Promoção de Dia dos Pais


Ontem estive no shopping para ir ao cinema. Quando estava na fila da Tim para pagar por um serviço, eu vi um acrílico com alguns panfletos sobre uma promoção de Dia dos Pais.
O título dizia assim:
Quer ganhar uma TV 3D para curtir com o seu pai?
Responda por que sua história com seu pai daria um filme. A resposta mais criativa ganhará a TV.
Sabe quando em segundos você sai de um contexto chato de fila de operadora de celular para entrar em outro que te jura que a sua história que nunca aconteceu daria o melhor de todos os filmes?
Pois foi exatamente isso que aconteceu. Veio na minha cabeça uma vontade incontrolável de responder essa pergunta e colocá-la na urna mais próxima. Eu não me dei conta que, de repente, a história tivesse que ser interessante e cheia de grandes emoções... Veio na minha cabeça poucas lembranças do que realmente existiu da convivência com este parentesco, poucas e bem distante.
Lembro de momentos de mamadeira, que conta a minha mãe que eu só conseguia dormir quando ele cantava alguma música pra mim, porque assim eu sentia a segurança necessária para me deixar levar pelo sono...
Uma vez minha mãe me acordou de madrugada e colocou um pijama rosa da Hello Kitty em mim e partimos para o aeroporto, íamos pro Rio. Lá dentro, eu gritava e batia na porta pedindo para abrir pra eu ver o meu pai. Claro, atrasei a decolagem de tão histérica que eu fiquei. Não me lembro de ter feito isso por nenhum namorado...
Uma vez eu e meus irmãos insistimos comprar umas pelúcias que estavam expostas para venda na vitrine de um restaurante de estrada, e chegou um determinado momento que o “não” não foi suficiente, ou seja, PISA. Levamos, os três. Eu sou a que lembro menos da dor, porque era a menor...
A separação
Isso aconteceu quando eu tinha 3 anos. E juro, eu me lembro do rosto dele naquela manhã, ainda molhado do banho. Aquele semblante era totalmente diferente de todas as outras manhãs. Eu era quase que ainda um bebê, mas eu sabia naquele momento que ele não voltaria mais.
Depois disso, lembro bem meus irmãos se recusando a ir passar os finais de semana com ele, e eu, sempre tão emotiva e altruísta, não deixava transparecer essa indiferença e acabava indo, mesmo que sozinha, para que ele não se sentisse rejeitado pelos seus filhos.
Não imagino que seja fácil para uma mãe se separar de alguém que, com ela, produziu as coisas mais preciosas de sua vida. Porque as mães vivem dizendo isso, né... Como se somente os pais tivessem direito de sentir que somos pedacinhos deles, e nunca o contrário. Eles dizem que se morrêssemos eles morreriam também, mas não entendem que muitas vezes um filho cresce se sentindo meio morto por não ter um deles por perto. Eles pensam que são eles que reorganizam sozinhos nossa estrutura psicológica para essa grande mudança, não sabem esses pobres adultos que somos nós, que diariamente arrumamos um jeitinho de esquecer certas coisas importantes para sofrermos menos.
Já não é fácil ser filha de pais separados, mas pode ser ainda mais difícil quando:
Cada vez que você vê o pai da sua amiga indo busca-la no colégio, e o seu, nunca aparece lá e em nenhuma outra ocasião;
Quando você queria muito ter alguém para consertar aquela coisa sua que parece que quebrou;
Quando você chega em casa triste com seu namorado e não tem aquele homem que “jamais permitiria ver sua filha chorar”, para dar uma broncona no safado depois;
Quando você queria saber de onde vem certas características suas que definitivamente não são de sua mãe;
Quando você pensa em casar na igreja e queria te-lo ali do lado, feliz, mas também triste por perder a convivência com sua filha e amedrontado com a possibilidade dela vir a sofrer...
Quando, entre inúmeras coisas que não citei aqui, chega o dia “Dele” e ele está longe, sendo o prestigiado de uma outra família.
Eu simplesmente achei que aquela pergunta era pra mim, então eu queria a todo custo ter a chance de respondê-la. Não me importava muito o prêmio final, porque na verdade ter falado sobre esse assunto já era um presente libertador, e o valor disso é muito maior que todas as TVs de última geração com seus 3, 4 ou 5 Dês. Eu cheguei a pensar também que talvez contando essa história, eu poderia ter uma chance de ganhar. E talvez ganhando a TV eu ganhasse também o pretexto de tentar uma reaproximação...
Não sei se são todos os pais gostariam de estar próximos dos filhos dos seus casamentos fracassados, mas posso apostar que todos gostariam de uma TV 3D.









( O anúncio da promoção pediu a resposta mais criativa. “Criativa” não significa que tenha que ser alegre. E que o final da história desse filme tenha que ser feliz).